O perigo de professores acharem que sua opinião é verdade. O erro de pais acharem que a opinião não deve existir.
Escrevo a convite de Rafael Pellizzer, professor com uma linda trajetória de engajamento à frente do Cursinho Prof. Chico Poço. Além da crença na ação social para mudar nosso mundo, divido com ele a admiração justamente pelo professor que dá nome ao cursinho. Chico era afilhado de minha avó, membro de nossa casa, professor e político. Lidava muito bem com essas duas atuações, sem nunca ser ameaçado, constrangido ou tolhido.
Escrevo como quem (ainda) nutre o sonho de dar aulas de sociologia ou história um dia, mas que hoje tem o receio de não conseguir ser aquele tipo de professor que eu sempre admirei e que mudou minha vida. O medo de não conseguir ser um Chico Poço – para ficar no exemplo. Em resumo, o medo de não poder ser aquele tipo de professor que te ajuda a chegar ao mundo das ideias.
Que entende no diálogo e apenas nele a possibilidade de produzir conhecimento. Que entende o diálogo como técnica de perguntar, responder e refutar. Essa arte da palavra, conceituada como dialética, é justamente a base de nossa ciência.
Desenvolver as habilidades necessárias para entender um argumento e contrapor outro para contestá-lo, conseguindo com isso produzir uma terceira ideia é uma capacidade essencial não apenas para conversar sobre polêmicas ou noticiário, mas para “operar logicamente”.
E não há ciência sem esse mecanismo de pensamento lógico. Não apenas por ser impossível avançar na produção de qualquer tipo de conhecimento sem tal procedimento lógico e seu choque de ideias.
É preciso apenas ser honesto e realista para admitir: o que chamamos de fatos, de verdades são aquilo que conseguimos captar, que nesse momento conseguimos compreender. Ou seja, nossa lógica trata do aparente, que é definido pelas limitações tecnológicas ou morais de nosso tempo.
Quantas mudanças completas em teorias físicas, biológicas e na compreensão sobre os mais diversos fenômenos terão de ocorrer para pensarmos que provavelmente alguém defendia com unhas e dentes uma teoria que hoje está superada?
Quando conferimos verdade a uma ideia, corremos o perigo de esquecer que elas podem ser superadas. Quando nos esquecemos de toda subjetividade de dialética que a construiu e que possibilitou que a aprendêssemos, esquecemos da subjetividade dos outros seres. Corremos o risco de travar um diálogo capaz de criar novas sínteses.
Obstruir a dialética e o choque de ideias é o caminho para a falência da ciência e da filosofia. Ambas só puderam ser construídas graças à coragem de quem permitiu, estimulou e encarou choques entre ideias diferentes. E uma Escola Sem Isso não está mais cumprindo seu papel.
▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪▪
Autor: 🗳Henrique Parra Parra Filho, cientista social.
Excelente texto!
E que orgulho, depois de tantos anos sem Chico Poço, ainda poder conhecer mensagem tão elogiosa sobre a sua postura e qualidades, sem dúvidas, verdadeiras!
Henrique, abraços a toda a família, especialmente a Dona Felipa, que também aprendi (com o Chico), a admirar.
CurtirCurtir