Parte V de V
Conclusões finais
Diante das observações anteriores nas partes I, II, III e IV, assim como das análises e questionamentos feitos pelos autores apresentados no quadro teórico, é possível estabelecer algumas conclusões finais desta pesquisa.
Em primeiro lugar, o fracasso escolar não está restrito somente aos alunos e professores (assim como, de maneira equivocada, muitos indivíduos propagam), mas sim a todos que participam do processo de escolarização. Olhar para o “aluno problemático” ou para o “professor incompetente” somente traz observações preconceituosas, não auxiliando no entendimento da complexa trama que envolve o problema do fracasso escolar. Existe, portanto, uma tendência negativa de encontrar um “culpado” para o fracasso escolar, sendo que o fenômeno é amplo e multidimensional.
Em segundo lugar, vivendo e fazendo parte de uma sociedade excludente e desigual, a escola tornou-se um ambiente em que a exclusão e a desigualdade não estão só presentes, mas também reproduzem inúmeras formas de preconceito e injustiças no seu interior, entre os sujeitos escolares (professores, alunos, direção e coordenação).
O discurso atual sobre a educação pública é o mais negativo possível. Durante o estágio, afirmações foram ouvidas como: “Alunos vagabundos! Não querem nada com nada! Não querem aprender! Só servem pra dar problema e tumultuar! Já são casos perdidos! Perda de tempo tentar melhorá-los!”
O problema não só reside no discurso extremamente preconceituoso. O maior prejuízo, o dano mais cruel são os alunos internalizarem este discurso. Em um debate elaborado na escola, pude ouvir alunos dizendo: “Professor, eu sou burro, não consigo aprender…” “Sou vagabundo mesmo…” “Não tenho mais vontade de estudar, porque já sei que não tenho capacidade pra nada.”
Ouvir isso é muito triste. Alunos, tão jovens, que já absorveram todo este discurso preconceituoso, o qual prejudica não só a sua aprendizagem, mas também a formação de sua identidade.
A criança de hoje será o adulto de amanhã. Segundo Dante Moreira Leite, a escola é um dos campos mais importantes à formação da identidade de um indivíduo.[1]
Ouvir que “não passa de um vagabundo(a) e de um garoto(a) burro(a)” durante a vida escolar, formará que tipo de indivíduo no futuro?
Antes das políticas públicas e de qualquer incentivo à educação, devemos pensar em propostas de combate ao discurso maligno e cruel que tem destruído o potencial de cada estudante. Isto significa mudar e combater cada parte preconceituosa da mentalidade social em que estamos, infelizmente, inseridos e sendo influenciados.
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Autor: 🤠Gabriel Zanni, historiador responsável pelo portal Logados na História.
Referências e Bibliografia:
COLLARES, Cecília A. L.; MOYSÉS, M. Aparecida A. Preconceitos no cotidiano escolar: ensino e medicalização. São Paulo: Cortez, 1996.
FERRARO, Alceu R. Escolarização no Brasil na ótica da Exclusão. In: Fracasso Escolar uma perspectiva multicultural. Porto Alegre: Artmed, 2004.
FRELLER, Cíntia C. O trabalho com os professores. Histórias de indisciplina escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
FRELLER, Cíntia C. O trabalho com os alunos.. Histórias de indisciplina escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
LEITE, Dante Moreira. Educação e Relações Interpessoais. In (org.) M. H. Patto: Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997, 3ª. ed.
PATTO, Maria Helena Souza. Raízes históricas das concepções sobre o fracasso escolar: o triunfo de uma classe e sua visão de mundo. In: A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008, 3ª. Ed.
[1] Dante Moreira Leite. Educação e Relações Interpessoais. In (org.) M. H. Patto: Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997, 3ª. ed., p. 304.
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